Ecomimicry: soluções inspiradas na natureza para a fauna silvestre
Ecomimicry, um termo em inglês1 que significa, na prática, incorporar componentes e processos funcionais de um ecossistema em sistemas feitos pelo homem, como áreas urbanas.
Esse termo começou a ser usado por pesquisadores, especialmente em contextos de arquitetura sustentável, planejamento urbano e gestão ecológica.
Essa prática propõe que nossas soluções humanas — desde o design de espaços até a gestão ambiental — sejam inspiradas nos próprios ecossistemas naturais.
No site “Cerrado em Jardim”, acreditamos que cultivar paisagens que respeitam e acolhem a fauna silvestre é um ato de conservação. E a abordagem “ecomimicry” é uma ferramenta poderosa para isso.
Projetando espaços que coexistem com a vida silvestre
Um questionamento em forma de ação, muitas vezes negligenciada: como contemplar a fauna silvestre nos projetos inspirados pela abordagem “ecomimicry”?
No contexto da fauna silvestre, isso significa criar ambientes e recursos que imitam os habitats naturais, respeitam os ciclos biológicos dos animais e favorecem sua presença em áreas urbanas ou outras áreas antropizadas.
Antes de tudo, precisamos estar cientes que animais precisam se mover para encontrar alimento, parceiros e abrigo. A fragmentação de habitats é um dos principais impactos negativos na fauna e encontrado em vários sistemas antropizados. Nesse sentido, corredores verdes – mesmo em ambientes urbanos – permite que a fauna se desloque com segurança. Isso pode incluir passagens de fauna entre parques, margens de rios ou remanescentes de vegetação nativa.
10 exemplos de aplicação da abordagem “ecomimicry” voltados a Fauna Silvestre
Muitos desses componentes podem ser implementados em quintais, jardins, parques ou projetos educativos:
Abrigo e Habitat:
1. Caixas-ninho para aves – simulam cavidades naturais em troncos de árvores – espaços cada vez mais escassos em ambientes urbanos – e são essenciais para servir de dormitório para espécies arborícolas.
2. Caules de palmeiras morta – simulam locais de ninhada e podem ser ocupados por araras para fazer seus ninhos. Quando na área circundante existem árvores frutíferas e palmeiras, viabiliza ainda mais a ocupação pelos animais.

3. Vegetação nativa afastada das calçadas e ruas – plantas nativas desempenham um papel essencial na atração e sustentação da fauna local. Ambientes arborizados com estrutura ecológica complexa – incluindo dossel, sub-bosque, ervas, lianas e serrapilheira –, especialmente quando afastados de áreas com grande circulação de pedestres, oferecem refúgio e oportunidades de escape para animais silvestres. Ao favorecer a presença da biodiversidade em meio a matriz urbana, essa abordagem contribui para a coexistência entre a vida silvestre e humanos.

4. Jardins com plantas nativas – jardins com flores de plantas nativas são resistentes a variações climáticas locais e atraem fauna local, como beija-flores, abelhas nativas e borboletas.
5. Lagos artificiais com vegetação aquática – simulam áreas de alimentação para aves e anfíbios.
6. Plantio de árvores frutíferas nativas – oferece alimento para mamíferos e aves frugívoras.
7. Sombras vegetais e refúgios térmicos – criam microclimas semelhantes ao sub-bosque.

8. Calendários de poda conscientes – evitam interferência na alimentação dos animais em épocas de reprodução.
Por que isso importa?
Ao aplicar a abordagem “ecomimicry”, não estamos apenas desenhando espaços belos ou eficientes – estamos semeando reconexões entre a natureza e o ser humano. Cada gesto de imitação ecológica restaura caminhos para um espaço mais amigável para fauna nativa.
Imitar a natureza é um ato de coragem – uma escolha por caminhos mais vivos, mais justos, mais inteiros. Ao nos inspirarmos nela com respeito e ousadia, não criamos apenas paisagens belas: erguemos territórios de resistência, onde a vida se protege, se multiplica e se afirma. No “Cerrado em Jardim”, cada espaço é um gesto de insurgência contra o esquecimento, um chamado para que a biodiversidade retome seu lugar. Que esse gesto comece hoje
Referências
Rumble, H., F. Angeoletto, S. Connop, M.A. Goddard, and C. Nash. 2019. Understanding and applying ecological principles in cities. In Planning Cities with Nature, ed. Oliveira, L.F., and I. Mell, 217–234. Springer: Cham.
Vissoto, Maiara; Schneiberg, Israel; Varassin, Isabela Galarda; Araujo, Andréa Cardoso; Maruyama, Pietro Kiyoshi; Vizentin-Bugoni, Jeferson. Frugivory and Seed Dispersal in Tropical Urban Areas: A Review. In: Fabio Angeoletto; Piotr Tryjanowski; Mark D. E. Fellowes. (Org.). Ecology of Tropical Cities, Volume II. 1ed.: Springer Nature Switzerland, 2025, v. II, p. 679-701.