Cerrado em jardim

Paisagismo ecológico

Paisagismo ecológico: raízes históricas e caminhos para o futuro

Após a Revolução Industrial, o ambiente urbano passou por uma transformação no contexto espacial. O crescimento acelerado das cidades, impulsionado pela mecanização e pela migração em massa para os centros industriais, trouxe consigo condições de salubridade precárias, ausência de qualidade ambiental e forte degradação dos ecossistemas naturais. As cidades tornaram-se espaços densos, poluídos e carentes de áreas verdes, o que resultou em problemas de saúde pública, como aumento de doenças respiratórias.

Esse cenário histórico abriu espaço para reflexões sobre a necessidade de integrar a natureza ao planejamento urbano. Assim, áreas verdes começam a ganhar força e mais espaço na esfera pública (como parques públicos) e jardins urbanos no século XIX. Por exemplo, o Central Park em Nova York (1857)1, projetado por Frederick Law Olmsted, considerado um marco do paisagismo moderno. No século XX, movimentos ambientalistas reforçam a necessidade de integrar sustentabilidade ao planejamento urbano. No século XXI, o paisagismo ecológico consolida-se como política pública e estratégia de mitigação das mudanças climáticas.

Biofilia e resposta ecológica

A crise ambiental urbana pós-industrial reforçou a importância da biofilia2, conceito que descreve a tendência humana de buscar conexão com a natureza. Estudos científicos3 contemporâneos demonstram que ambientes verdes reduzem estresse, melhoram a saúde mental e aumentam a produtividade. Assim, o paisagismo ecológico surge como uma resposta histórica e atual: reconectar cidadãos com a natureza em meio ao concreto, transformando cidades em espaços mais humanos e resilientes.

Lago do Parque das Nações Indígenas
Parque das Nações Indígenas - Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil.

O que é paisagismo ecológico?

O paisagismo ecológico vai além da estética. Ele se baseia em princípios de sustentabilidade, biodiversidade e integração com o ecossistema local. Diferente do paisagismo tradicional, que muitas vezes privilegia espécies exóticas e manutenção intensiva, o paisagismo ecológico valoriza plantas nativas, reduz o consumo de água e promove equilíbrio ambiental.

Essa abordagem busca criar espaços que não apenas embelezam, mas também funcionam como sistemas vivos, capazes de purificar o ar, regular a temperatura e oferecer refúgio para fauna urbana.

Estratégias práticas de paisagismo ecológico

Uma das estratégias fundamentais é a seleção de plantas que florescem e frutificam em diferentes épocas do ano1,2. Essa abordagem garante diversidade estética ao longo das estações, além de oferecer recursos contínuos para a fauna urbana, como polinizadores e aves frugívoras. Ao planejar a distribuição temporal de flores e frutos, o paisagismo ecológico promove ciclos ecológicos equilibrados, reduz a necessidade de manutenção intensiva e fortalece a biodiversidade local.

Enquanto possibilidade prática, o paisagismo ecológico busca incorporar princípios de recuperação de ecossistemas, utilizando espécies nativas e ofertando recursos similares aos encontrados no ambiente natural. Isso significa criar ambientes urbanos que funcionem como micro-habitats, capazes de purificar o ar, regular a temperatura, absorver água da chuva e servir de refúgio para a fauna.

Biofilia: a conexão essencial

O conceito de biofilia, popularizado pelo biólogo Edward O. Wilson, descreve a tendência humana de se conectar com a natureza. Estudos mostram que ambientes verdes reduzem níveis de estresse, aumentam a produtividade e melhoram a saúde mental.

Ao aplicar a biofilia no planejamento urbano, o paisagismo ecológico transforma praças, parques, calçadas e até telhados em espaços que estimulam bem-estar. Essa reconexão é vital em cidades densas, onde o contato com a natureza é escasso.

Benefícios para as cidades

O impacto do paisagismo ecológico vai muito além da beleza. Entre os principais benefícios, estão:

  • Redução das ilhas de calor: árvores e jardins verticais ajudam a diminuir a temperatura em áreas urbanas.
  • Melhoria da qualidade do ar: plantas filtram poluentes e aumentam a oxigenação.
  • Gestão da água: jardins de chuva e áreas permeáveis reduzem enchentes e aproveitam melhor a água da chuva.
  • Valorização imobiliária: bairros com áreas verdes tendem a ser mais valorizados e atrativos.
  • Saúde pública: espaços verdes incentivam atividades físicas, diminuem o estresse e fortalecem o senso de comunidade.

Esses benefícios mostram que investir em paisagismo ecológico não é apenas uma questão ambiental, mas também econômica e social.

Exemplos de soluções biofílicas

Diversas cidades ao redor do mundo já adotam práticas de paisagismo ecológico como parte de seus projetos urbanos:

  • Singapura: conhecida como “cidade-jardim”, investe em telhados verdes e corredores ecológicos que conectam diferentes áreas da cidade.
  • Curitiba (Brasil): referência em planejamento urbano sustentável, com parques que funcionam como áreas de drenagem natural.
  • Nova York: iniciativas de jardins comunitários e revitalização de áreas industriais com vegetação nativa.

Esses exemplos mostram que é possível conciliar crescimento urbano com respeito ao meio ambiente.

Caminhos para o futuro

O paisagismo ecológico deve ser visto como política pública e não apenas como tendência estética. Incentivos governamentais, regulamentações que favoreçam áreas verdes e participação comunitária são fundamentais para ampliar essa prática.

Além disso, arquitetos, urbanistas e engenheiros precisam trabalhar em conjunto para criar projetos integrados, onde o verde não seja um acessório, mas parte essencial da infraestrutura urbana.

Referências

Elmqvist T, Redman CL, Barthel S & Costanza R. 2013. History of urbanization and the missing ecology. In.: Urbanization, biodiversity and ecosystem services: challenges and opportunities (Eds. T Elmqvist, M Fragkias, J Goodness, B Güneralp, PJ Marcotullio, RI McDonald, S Parnell, M Schewenius, M Sendstad, KC Seto, C Wilkinson). pp. 13–30. Springer.

Santos, A.R.; Rocha, C.F.D.; Bergallo, H.G. 2010. Native and exotic species in the urban landscape of the city of Rio de Janeiro, Brazil: density, richness, and arboreal deficit. Urban Ecosystem 13: 209-222.

Seto KC, Parnell S & Elmqvist T. 2013. A global outlook on urbanization. In.: Urbanization, biodiversity and ecosystem services: challenges and opportunities (Eds. T Elmqvist, M Fragkias, J Goodness, B Güneralp, PJ Marcotullio, RI McDonald, S Parnell, M Schewenius, M Sendstad, KC Seto, C Wilkinson). pp. 1–12. Springer.

Shi M. 1998. From imperial gardens to public parks: the transformation of urban space in early twentieth-century Beijing. Modern China 24: 219–254.

Vissoto, Maiara; Schneiberg, Israel; Varassin, Isabela Galarda; Araujo, Andréa Cardoso; Maruyama, Pietro Kiyoshi; Vizentin-Bugoni, Jeferson. Frugivory and Seed Dispersal in Tropical Urban Areas: A Review. In: Fabio Angeoletto; Piotr Tryjanowski; Mark D. E. Fellowes. (Org.). Ecology of Tropical Cities, Volume II. 1ed.: Springer Nature Switzerland, 2025, v. II, p. 679-701.

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